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APONTAMENTOS DE UM PROVINCIANO EM LISBOA - Factos e comentários
Minerva Commercial
Évora – 1910
Autor desconhecido
Páginas: 256
Dimensões: 205x140 mm
Encadernação: Capa dura
Peso: 342
IS 1543325890
Exemplar bem conservado
PREÇO: 13.00€
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Patria
Há no nosso desventurado paiz algumas palavras cuja verdadeira significação é, por uma grande maioria, desconhecida por completo.
Há palavras que são poemas, há outras que são sentenças; outras que por si só equivalem a um capitulo. Entende-las, compreende-las, eis o caso.
Vamo-nos occupar da palavra «patria», tão usual em todas as camadas sociaes, como mal comprehendida na maioria d'ellas.
E', seguramente, a palavra «patria» ouvida pronunciar por todas as bocas, desde a creança que balbuceia, até ao velho encanecido; desde estudante d'instrucção primaria até o alumno de um curso superior; no logarejo provinciano, nas aldeias, nas villas, nas cidades, no mesmo mar, sob frageis bateis ou sobre grandes barcos, a palavra patria» se ouve, repercutindo-se pelas alpestres serranias, de rocha em rocha, de valle em valle, pelas modestas habitações, pelas abobadas dos vestustos mosteiros, pelos grandes e sumptuosos palácios, pelas fabricas e oficinas, no proprio mar, como que levada pelas tumultuosas ondas; em todos os logares, emfim, essa palavra se ouve, se aprende, se articula e... não se comprehende.
O que é patria?
O paiz em que alguém nasce.
Eis a definição dada por alguns bons diccionarios portuguezes, e eis tambem o que a maioria das gentes comprehendem.
Perguntemos ao nosso soldado o que é patria e obteremos por resposta que a sua patria é Portugal. Perguntemos lhe em seguida se está satisfeito, investido do honroso cargo de defensor d'ella, e ouviremos como resposta não. Perguntemos-lhe a causa d'essa recusa, e, pela sua resposta, veremos a ideia que faz d'essa patria á sua guarda confiada.
Vamos a uma aldeia, villa ou cidade mesmo, e veremos o estado de consternação das familias dos recenciados. Emquanto na cidade se trabalha assiduamente para a libertação do mancebo, pela santa empenhoca, na pobre aldeia veremos os lares illuminados por lampadas e velas, que ardem ante qualquer rustica imagem para que ante Deus interceda, livran-do das sortes um filho, irmão, ou sobrinho; e por aqui veremos a ideia que essa gente faz da patria.
Consultemos certos políticos sobre o mesmo assumpto, e então pasmaremos ao ouvir as bellas flores e imagens que lhes sahem dos seus auctorisados lábios.
Porém, se lhes falarmos de certas necessidades, de certos sacrificios que a patria necessita, veremos então, que uma outra dedicação, um outro affecto, suplanta o da patria....
Necessitamos, pois, uma lanterna para, nas tenebrosidades da ignorancia e do egoismo, encontrar quem comprehenda, ou queira comprehender, a palavra patria em todo o seu amplo sentido.
A patria é mais alguma coisa do que o simples logar onde se nasce.
Patria é uma familia, e como tal, exige deveres gratidão, amor, respeito e solidariedade.
Patria é liberdade, e para haver liberdade é necessario que haja sacrificios. E qual o principal ?
O nosso amor por ella, que consiste na somma dos esforços, de todos os seus tilhos,combinados para um fimo seu engrandeci mento. E esses esforços, esses sacrificios, são os que nos levam a desenvolver as capacidades productoras d'um povo, a difundir a illustração e, muito principalmente, a educação. Por que hoje, o engrandecimento d'um povo só se obtem pela sua cultura scientifica, pelo seu aperfeicoamento na arte e na industria e não pela sua força de colosso ou pelas suas tradicções his-toricas.
Dizem as gazetas que se realisou em Italia um congresso feminista, n'uma sala do palacio da Justiça em Roma, cedida gentilmente pelo ministro das Obras Publicas.
Entre as congressistas, encontravam-se senhoras da mais nobre estirpe e da grande e intelectualidade. A presidencia d'esse congresso foi dada á princeza Leticias de Aosta. A direcção da Associação Feminina é constituida pelas condessas Gabriella Spolleti Rasponi, Lavinia Taverna, e Salina Parravicina; as baronezas Juliana Ricassoli e Elena Trench, etc.
Como vamos ver, as nobres damas italianas teem algum conhecimento mais do que as nossas, isto é do que as nossas nobres.
Entre os numeros do seu programma, citaremos por exemplo: «Que as discussões do congresso não tenham caracter pessoal e polrico. A cultura necessaria & mulher na familia e a maneira de a desenvolver. Os melhores processos de tornar o ensino obrigatorio. A cultura e a educação moral e religiosa na escola, Reconhecimento materno do filho illegitimo e protecção à mulher solteira. Modo de socorrer as mães e evitar o trabalho da mulher do povo no periodo immedia-to ao parto.
Condição moral e juridica da mulher.
Hygiene.
Aqui temos pois, alguns dos pontos de que o congresso se occupou..
Ora, quando lemos esta noticia ficamos como petrificados, porque, realmente, o caso não é para menos.
Custa-nos dar credito a tal noticia e sentimos uns certos estremecimentos quando pensamos a sorte que estaria reservada a essas illustres senhoras, se vivessem no nosso meio, isto é no meio chic.
. Um pequeno exame basta para que veja- mos isto
Que medidas existem entre nós para o reconhecimento materno do filho illegitimo? (*)
Que protecção existe para a mãe solteira?
A' primeira pergunta podemos talvez responder pondera Roda. A' segunda-o despreso, a prostituição, o hospital o manicomio.
(*)Actualmente pela lei da familia existe entre nós reconhecimento do filho ilegitimo, ao tempo, porem, em que este artigo foi escripto não existia (1908)
Mas, não nos demcremos e passemos por alto certos pontos, que varias razões nos fazem calar..
Entre nós as senhoras que se interessam pela condição da mulher, pelos seus direitos, que são finalmente feministas, poucas são, e essas, as condições da sua vida não as deixa dedicar-se exclusivamente ao seu idéal..
Por outro lado, nenhuma protecção encontram e, necessariamente, ou abandonam a lucta, ou limitam-se a um programma dificiendssimo, que apenas põe em destaque as suas individualidades. São elementos dispersos que nada por si podem fazer, mas que auxiliados, muito havia a esperar dos seus bellos talentos, energia e boa vontade.
E outras vezes quantas? ellas não são apontadas pelos indicadores enluvados de certas entidades rescendendo a violetas e a incenso.
E' ver o que se está passando actualmente entre nós.
Ao passo que em Italia a nobreza feminina trata de melhorar a condição da sua semelhante; quando se declara expressamente que não é permittido no congresso a discussão pessoal ou politica; finalmente, quando esse congresso se declara por maioria, contrario ao ensino congreganista da mulher; outras partes ha em que se formam ligas de nobres senhoras para pedir rotos, fazer propaganda para que não se compre.neste ou n'aquelle estabelecimento, porque o seu proprietario tem esta ou aquella ideia, protegem se asilos dirigidos por irmãs da caridade no passo que tanta mulher illustrada tem que procurar um outro asilo para viver; dão-se pomposamente esmolas em dias determinados, perecendo de fome a pobreza envergonhada e... distribue-se gratuitamente o Portugal!
Pois bem, entre as ideias d'umas e outras ha uma grande differença. Bom será que não se confundam. As italianas e suas ideias, reprsentam amor, humanidade e sciencia; as outras e suas almas, falsidade, hipocrisia e ignorancia. Não ultragemos as primeiras comparando-as.