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Edição Bertrand de 1956
António Botto é considerado um dos heróis do lirismo português moderno. Conhecido fundamentalmente pela prática da poesia de verso livre, António Botto não descura na sua produção literária a elegância da composição e a leveza rítmica. Estas suas Canções, publicadas em 1922 pela fugaz editora de Fernando Pessoa - Olisipo -, chegaram mesmo a ser apreendidas, o que em muito contribuiu para a classificação de António Botto como poeta maldito.
É preciso hoje ir ler os seus poemas, sobretudo, sem excessivo apelo ao seu ademane de personagem pública. E descobrir neles uma das irrupções mais nítidas de uma estranha qualidade de música ligeira: a que é capaz de cantar a pele e os seus arrepios de desejo, a pequena experiência de esquina do corpo casual, estilhaçando desde o primeiro sopro de voz o etéreo desinteresse pela sexualidade que o lirismo português vinha afectando, de Patrício a Pascoaes, de Pessoa a Pessanha, de Nobre a Roberto de Mesquita, de Antero a João de Deus.
A poesia de António Botto é água transparente onde os outros destilam os seus álcoois, é um passeio embalado pelos bairros da noite onde os outros nos propõem um passo no abismo ou a dobra alucinada do mundo.