A Sexualidade

“Aristófanes ensina-nos, no Banquete de Platão, que outrora a espécie humana diferia muito do que é hoje. Existia uma raça de homens que participava do sexo masculino e do sexo feminino: possuía quatro braços, quatro pernas e duas caras e a sua estrutura tendia para a forma perfeita: a esfera. Júpiter, ciumento destes seres poderosos e fortes, que não hesitavam mesmo em atacar os deuses, seccionou-os em duas partes e encarregou o deus da medicina de curar os ferimentos e tornar viável esta nova raça. Assim, entre os homens apareceram os sexos, e o amor que aspira à união é o mais vivo e autêntico vestígio da unidade primitiva.

Os paleontologistas modernos estão muito longe da opinião de Aristófanes e não admitem que o aparecimento dos sexos sobre a terra seja posterior ao do homem. A origem dos sexos perde-se na noite dos tempos e não se saberá mesmo dizer em que sentido vai a sua evolução; alguns pensam que a sexualidade progride, enquanto outros insistem na partenogénese, que ganha terreno, e no dimorfismo sexual, mais nítido em certos animais inferiores, tais como os insectos ou os vermes. Deixemos de parte este insolúvel litígio para estudar questões mais actuais.

Depois que a sexualidade é abordada pela via química das hormonas, a atmosfera mudou e o último quarto de século viu multiplicarem-se trabalhos numa cadência tal que é quase impossível segui-la e que um livro sobre estes assuntos devia ser actualizado pelo menos todos os anos. Sem esquecer que nada de definitivo se estabelece num solo movediço, iremos tentar dar uma ideia do problema actual da sexualidade.

A sexualidade que mais nos interessa é a da humanidade, mas dela não saberemos falar sem ter considerado o conjunto dos seres vivos, porque, se certos pormenores lhe são particulares, uma profunda unidade da vida nos faz encontrar em toda a parte as mesmas hormonas e os mesmos fenómenos citológicos.

Apresentaremos primeiramente um quadro geral da sexualidade, das suas diferentes formas e seus múltiplos graus; a relatividade dos sexos mostrar-nos-á os diversos intermediários que a natureza ou a biologia realizam.

A segunda parte, cujo título não poderia ser compreendido no princípio deste século, estudará a química do sexo, a parte mais instável, ou, mais exactamente, mais progressiva. Apresentaremos as hormonas mostrando como se descobriram, indicaremos as propriedades que se lhes atribuem e o papel que desempenham no organismo e na terapêutica.

A terceira parte estudará as étapes do sexo, porque o seu estabelecimento comporta um certo número delas que se podem resumir a três: o sexo hereditário ou genético, o sexo anatómico ou morfológico e o sexo fisiológico ou psicológico. É impossível não compreender a natureza do sexo ou as suas anomalias se se não considerarem em pormenor estas três étapes.” – Introdução do livro

• Encadernação: capa mole
• Ano: 1960
• Páginas: 208
• Dimensões: 18 x 11,7 cm