Meu Avô, Pablo Picasso

Marina Picasso recorda-se de ter seis anos e de estar parada, sem jeito, em frente aos portões da grande casa de Picasso, perto de Cannes. Ela estava lá com o pai e o irmão de oito anos para receber do avô a semanada que Picasso dava relutantemente ao filho mais velho para sustentar a família. Por vezes eram mandados embora e, noutras ocasiões, os portões eram abertos e entravam no caos intimidante e emocionante do estúdio de Picasso para enfrentar o próprio e os seus estados de espírito imprevisíveis. Olhando para trás, Marina consegue compreender porque é que Picasso tinha tão pouco interesse pelos netos; mas, naquela altura, ela e o irmão ansiavam que ele os amasse e os compreendesse. A poucos quilómetros dali, na Côte d'Azur, levavam uma vida precária. O seu pai era um homem fraco, dependente dele para tudo, e a sua mãe vivia no seu próprio mundo de fantasia; a família estava, portanto, totalmente dependente de Picasso. As pessoas presumiam que eram ricas e privilegiadas porque eram Picassos e que viveriam as suas vidas sob o peso dessas suposições. Foi isso que fez com que o irmão de Marina se suicidasse e, quando o pai morreu, Marina viu-se na posição irónica de ser uma das principais herdeiras do espólio de Picasso.